2022-06-27
A resposta é: vai bastante melhor do que seria de imaginar. Pese embora o contexto seja ainda de pandemia e esteja em curso uma guerra na Ucrânia, a evolução da economia portuguesa é francamente promissora. Tal está patente no que tem sido o seu comportamento até à data e aplica-se igualmente às estimativas do que será o resto do ano. Não só Portugal está a crescer mais do que se previa, como se destaca dos seus pares europeus como o estado-membro da Zona Euro que mais deverá crescer em 2022.
A Comissão Europeia divulgou recentemente as suas previsões para a economia portuguesa para 2022 e 2023, estimando que Portugal vá crescer 5,8% este ano e 2,7% no próximo. Apesar de partirmos de uma posição, em termos de ranking europeu de crescimento, claramente desvantajosa (com tantas economias de Leste e Báltico a crescer mais do que nós), o futuro próximo parece mais auspicioso. Bruxelas estima um crescimento da economia portuguesa em 2022 mais expressivo do que na restante Europa, prevendo que o mesmo atinja mais do dobro da média europeia. De acordo com os dados do Instituto Nacional de Estatística (INE), Portugal cresceu 11,9% no primeiro trimestre deste ano, acima do que se esperava.
Para além do bom desempenho em termos de crescimento económico, o nosso país conta ainda com outros fatores a seu favor neste momento. Um deles é a inflação, esperando-se que Portugal se mantenha como o país com a previsão de inflação mais baixa. Uma das explicações para esta comparação poderá estar, de acordo com os analistas, em fatores como uma menor dependência do país, quando comparado com os seus pares, face às economias afetadas pelo atual conflito. Outro, admite-se, é o facto de entre as medidas implementadas para minimizar os efeitos negativos da pandemia na economia ter estado o recurso a moratórias e linhas de crédito e não tanto à atribuição de financiamentos.
De referir ainda que joga a favor de Portugal o facto de apresentar nesta altura uma baixa taxa de desemprego, assim como o facto de uma das economias com as quais o nosso país tem mais relações comerciais – Espanha – ser um dos países que também está a crescer mais.
Note-se que as previsões de Bruxelas quanto ao crescimento português acomodam a possibilidade de, em resultado da guerra, o PIB estagnar nos próximos meses e acontecer uma aceleração da taxa de inflação.
Embora em causa estejam, evidentemente, um conjunto de fatores, um assume particular relevância: o turismo. Este setor, que tem um peso tão relevante na economia portuguesa, está a beneficiar ainda dos efeitos da recuperação da atividade, depois da descida a pique provocada pela pandemia. Por outro lado, o conflito desencadeado pela Rússia, que tenta tomar para si a Ucrânia, está a fazer aumentar os fluxos turísticos neste sentido, por efeito de fuga de outros destinos mais a leste. Portugal é um destino que, para além de atrativo, oferece uma tranquilidade e uma distância face aos grandes epicentros de conflito que é algo que, numa altura destas, os turistas tanto procuram. Setores como o turismo, alojamento e restauração destacam-se, por isso, claramente, como setores de aposta nos próximos tempos. Até porque boa parte das empresas destas áreas de negócio não só já recuperaram como até estão a ultrapassar os níveis de atividade do período anterior à pandemia.
O mesmo acontece na construção e imobiliário. A maioria das empresas já regressaram a ritmos pré-pandémicos e, em vários casos, já os ultrapassaram. O comportamento que vier a ter a inflação, assim como as taxas de juro, poderá vir a condicionar as perspetivas para estes setores. Mas para este ano o que se prevê são aumentos do negócio de dois dígitos.
O consumo privado também aumentou, nomeadamente no que diz respeito à procura interna que tem seguido uma tendência de crescimento. Em termos de procura externa, há um ligeiro aumento das exportações de bens e serviços (por via do turismo, mas não só) que têm um efeito positivo no país.
Por outro lado, a economia portuguesa beneficia dos fluxos de investimento que estão a chegar, em resultado do Plano de Recuperação e Resiliência. Outro efeito referido por vários analistas é também o resultante, mais uma vez, da guerra que levou muitos investidores a cancelar investimentos previstos – ou já realizados – nas geografias envolvidas no conflito. Alguns estão a escolher Portugal como destino alternativo.
Se é verdade que as previsões de crescimento para Portugal têm em conta a possibilidade de existir um agravamento dos efeitos negativos da guerra, há uma grande incógnita presente que impede que, apesar destas estimativas mais otimistas, se possa ter grandes certezas. Não se sabe quanto tempo mais demorará o conflito, que dimensão poderá ainda assumir, qual o rasto de destruição que deixará à volta e que efeitos vai ainda provocar no xadrez geopolítico europeu e mundial. Tudo pode mudar e assumir ainda maior gravidade. Nomeadamente no que diz respeito às pressões sobre os preços dos alimentos e outras matérias-primas e às perturbações nos circuitos de abastecimento de produtos.
Embora seja impossível nesta fase controlar e antecipar tudo, as políticas definidas a nível europeu e, em concreto, em Portugal “são cruciais para assegurar a manutenção de um crescimento sustentado”, referiu recentemente o Banco de Portugal. A entidade acrescenta que é fundamental que o país saiba tirar o máximo partido possível dos recursos vindos do PRR, nomeadamente quanto à capacidade de traduzir estes fundos em medidas que permitam as reformas necessárias e um aumento sustentado da capacidade produtiva portuguesa.
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